Têm sido produzidos imensos jogos de computador que foram baseados no universo do jogo de tabuleiro Battletech. Hoje iremos falar de um dos primeiros a chegar aos nossos discos rígidos. O tão original Mechwarrior.
Em Battletech, os jogadores tomam o controlo de máquinas de guerra gigantes chamadas de "Battlemechs". À primeira vista, a maioria das pessoas chamar-lhes-ia "robots", mas isso não é nada verdade. No habitáculo de cada "Battlemech" senta-se um ser vivo, um humano que controla esta gigantesca máquina de destruição. Estes bravos homens e mulheres são os "Mechwarriors".
A história de fundo é ao estilo do típico "último sobrevivente da família". Para encurtar a história, o nosso personagem é Gideon B. Vanderburg, filho dos governantes da colónia da Lua de Ander. Todos os membros da família foram assassinados e o seu legado, o Cálice de Herne, foi roubado, durante um ataque surpresa por parte de um grupo não identificado de "Battlemechs". O nosso personagem jurou vingar a sua família e recuperar o que é seu de direito.
E aqui começa a nossa aventura.
Durante o jogo teremos de descobrir para onde foram o assassinos da família do nosso personagem e recuperar o Cálice. Para tornar isto num desafio mais interessante, tudo isso terá de ser feito num intervalo de tempo limitado.
Será preciso reunir uma equipa com os melhores pilotos e "Battlemechs" que se conseguir. E para se conseguir tal, será preciso dinheiro, que poderá ser conseguido de duas maneira: ou nos tornamos "mercenários" e lutamos nas guerras de terceiros, ou nos tornamos mercadores, comprando "Battlemechs" em planetas onde eles são baratos e os vendemos onde pagarem muito bem por eles. Esta escolha fica ao critério de cada um. Adivinhem qual é a mais compensante?
O nosso "Battlemechs" inicial é um Jenner, um "Battlemech" ligeiro que é o segundo mais "leve" do jogo (mas não é o pior). Depois de o equiparmos, estaremos prontos para o nosso primeiro contracto. Podemos "vender" os nossos serviços a qualquer uma das cinco "Sucessor Houses" (Casas dos Sucessores), desde que estejamos num planeta que lhes pertença, mas os contractos com cada um deles têm os seus próprios trocadilhos, portanto há que tomar muito cuidado quando escolhemos o nosso "patrão".
O jogo tem várias características que aumentam muito o realismo da jogabilidade. Por exemplo, a reputação que se ganha quando se cumprem as missões para as "Successor Houses" pode resultar na possibilidade de negociar melhores termos de contractos e em conseguir que hajam melhores guerreiros a oferecerem-nos os seus serviços. Por outro lado, se a nossa reputação for muito baixa numa das Casas, eles podem recusar-se a darem-nos trabalho. Em combate há que vigiar os níveis de aquecimento do "Battlemech". Os membros da equipa vão ganhando experiência durante o decorrer do jogo e às vezes, podemos vir a descobrir que as oficinas de reparação não têm peças para executar algumas reparações específicas.
Existem oito tipos de "Battlemechs" disponíveis no jogo. Como já referi, começamos com um dos mais baratos e mais ligeiros. Felizmente, estão disponíveis "Battlemechs" melhores que poderão ser comprados quando se tiver dinheiro suficiente para tal. Estes variam entre o ligeiramente blindado e armado mas extremamente rápido Locust, passando pelo ágil e decentemente armado (mas que entra em sobreaquecimento muito rapidamente) Phoenix Hawk, até ao poderoso Battlemaster cujo poder de fogo tem de ser visto para se acreditar. Os oito tipos de "Battlemechs"no jogo são bastante diversos e para quase todos eles se pode encontrar uma razão para o seu uso durante o jogo.
Quando a nossa adorada máquina estiver danificada, podemos muito naturalmente repará-la, desde que sejamos "suficientemente" ricos. As reparações dos "Battlemechs" não são baratas, mas sempre sai mais barato repará-los que comprar novos. Quando não e tem dinheiro suficiente, podem-se fazer apenas as reparações mais básicas aos sistemas mais críticos, o suficiente para se tornar o "Battlemech" funcional e poder-se ganhar mais dinheiro para depois se fazer uma reparação total. Uma coisa de que eu na verdade senti falta foi da possibilidade de fazer modificações ao meu gosto no meu "Battlemech", tal como sucedia no jogo de tabuleiro. Bem, acho que não se pode ter tudo.
Durante os contractos teremos de cumprir vários tipos de objectivos que variam desde tornar inactivos ou destruir todos os "Battlemechs" inimigos, até à destruição de estruturas importantes na defesa de bases inimigas. Cada tipo de missão requer que se pense de uma maneira ligeiramente diferente, já que destruir um depósito de munições inimigo é uma coisa rápida de se fazer mesmo com um "Battlemech" ligeiro, mas defender um desses depósitos é uma tarefa muito mais difícil. Podemos apontar a partes especificas dos "Battlemechs" inimigos para obtermos resultados diferentes no que toca a danificá-los, isto é, destruindo-lhe um dos braços fará com que o inimigo perca qualquer arma que lá esteja montada, enquanto que rebentado com o cockpit, embora sendo uma tarefa mais difícil, põe-o logo fora de combate. Podemos deixar os outros "Battlemechs" que nos acompanham ser controlados pela sua "IA" ou, alternar para um ecrã de comandos em tempo real que nos deixa planear as suas acções de acordo com um certo nível táctico.
Os controlos na parte de simulação são um pouco complicados. Só podemos usar um conjunto pré-definido de controlos de teclado que não pode ser alterado. No entanto, muitos são os jogos mais modernos que requerem muitas teclas de controlo, e neste elas estão convenientemente colocadas para que se consiga aprender a usá-las muito rapidamente.
O sistema onde a história é apresentada é bastante simples, dependendo basicamente de caixas de texto que têm no máximo três opções de acção. Existe um certo factor de aleatóriadade e em dois jogos diferentes pode-se ter de procurar um personagem específico em dois locais diferentes, portanto há que ler com atenção as caixas de diálogo e tomar nota de "quem" está "onde", em caso de se precisar de voltar a encontra a mesma personagem mais tarde. O sistema também é daqueles que "não perdoa", querendo isso dizer que se fizermos uma asneira, esta certamente será fatal e resultará na "morte" do nosso personagem ou na melhor das hipóteses irá impedir-nos de conseguirmos concluir o jogo. Há também que manter constantemente debaixo de olho as chamadas "newsnet" (rede de notícias), já que através delas não só se recebem pistas sobre o que se está a passar na Lua de Ander, como também aparecem certas mensagens com informações necessárias para se completar o jogo.
A música surge muito raramente, e não é muito má, apesar de não merecer nenhum tipo de elogia. Os outros sons são apenas uns quantos beeps durante os combates.
Os gráficos são apenas e 16 cores, mas feitos numa resolução decente e suficientemente bem para serem aceitáveis. Durante as missões, a vista na primeira pessoa (que, por acaso, é um bocado pequena - na minha humilde opinião) mostra-nos o terreno e outros "Battlemechs" através do uso de gráficos vectoriais. Isto torna o jogo "pequeno" em termos de requisitos e rápido, e na verdade em alguns casos ele pode tornar-se extremamente rápido - eu lembro-me de ter que "desacelerar" um PC a 100 Mhz para dois terços da sua capacidade para conseguir uma velocidade de jogo aceitável. Os modelos baseados em gráficos vectoriais são bastante rudimentares e sem grandes detalhes, mas consegue-se distinguir facilmente os vários tipos de "Battlemechs" e apontar a secções específicas destas máquinas e disparar contra elas. O que é bastante mau é que não se conseguem distinguir as unidades do nosso lado das que são inimigas, o que pode levar alguns "Mechwarriors" menos experientes a cometer erros fatais.
Para concluir, Mechwarrior foi um marco histórico no mundo dos jogos de computador. É realmente um jogo que nunca deverá ser esquecido. Desde então muitos deixaram de o jogar, mas ainda assim o seu espírito vive nas suas sequelas e clones, entre eles Mech Assault e Earthsiege.
O "avozinho" de todos os jogos de combates com máquinas regressou. Terão vocês o que é preciso para o enfrentar?
NOTAS TÉCNICAS:
Mechwarrior não funciona com o DOSBox 0.63. No entanto, tanto quanto sei, funciona devidamente no DOSBox 0.61. A resolução com que funciona não é a 640x480 nem a de nenhumas das suas derivadas, mas sim na "boa e velha" 320x200. Para que o DOSBox a apresente como deve ser no modo ecrã inteiro (pergunto-me a mim mesmo se haverá alguém que o use no modo "janela"), devem ser feitas as seguintes modificações ao ficheiro de configuração ("dosbox.conf"):
fullscreen=true
fulldouble=false
fullfixed=true
fullwidth=640
fullheight=400
Alem do mais, este jogo é muito rápido. Funcionará devidamente mesmo com o ajuste dos ciclos de CPU para valores muito baixos (penso que uma máquina ao nível de um 486 com o DOS consegue lidar facilmente com ele), mas com valores dos ciclos de CPU muito elevados irá fazer com que os combates fiquem demasiado rápidos para que alguém os consiga disputar.