Este é um título que levei 11 anos a conseguir! Quando era criança joguei o demo que veio incluído num número da revista "PC Format" em 1996. Desde então tentei encontra-lo. Não tinha rasto dele na Internet, e realmente comecei a temer que o jogo se tivesse perdido para sempre. Depois de inumeráveis buscas e procuras em diferentes fóruns ao longo de anos descobri que o título do jogo era "The Lost City of Atlantis" ("A Cidade Perdida da Atlântida") (de aqui em adiante chamarei o simplesmente "Atlantis") e também que foi feito pela companhia Americana "Noch Software, Inc" lá no ano 95. Isso não ajudou muito já que Noch tinha desaparecido, mas depois finalmente pude conseguir um demo através de um membro alemão do Abandonia (o demo estava em inglês), e um mês mais tarde ele também tinha conseguido obter uma versão completa em alemão! Depois disto pus me em contacto com o produtor original do jogo, Thomas Dumstorf, através de um velho número de fax, e ele disse-me que inclusive que não tinha ideia de onde encontrar a versão em inglês! Pois bem, vejamos que tipo de jogo é esta rareza tão bem escondida .
O jogo:
Atlantis é um jogo de plataforma onde controlas Raghim - um comerciante fenício cuja força e valor estavam acompanhados por um igualmente enorme desejo de viajar por todo o mundo. Ele compra um antigo mapa num bazar e empreende uma viagem. O barco naufraga durante uma tempestade e Raghim é deixado pelas ondas nas orlas de uma longínqua ilha perdida. Agora com este personagem masculino totalmente nu (sim rapazes, temo-me que assim seja / excitante, eh raparigas?), deves atravessar os labirintos da Grécia, Egipto e finalmente a Atlântida, matando os monstros que se interponham no teu caminho e procurando pérolas para comprar as armas necessárias para o fazer. A travessia tem lugar tanto sobre o água como debixo dela, pois Raghim é capaz de caminhar, correr, saltar, nadar e submergir. Deves evitar armadilhas e ter cuidado de não ficares sem oxigénio quando estás sob o água. Para passar ao nível seguinte deves achar todos os cristais ocultos (cada nível tem sete cristais) e entregar-los ao mago que vigia a saída para o nível seguinte. Grécia, Egito e a Atlântida têm cada um sub-niveleis, de maneira que o jogo tem ao todo 12 deles. Quase todos os inimigos são criaturas míticas como minotauros, harpías, escorpiões gigantes e demais (dependendo de que mundo te encontras) e requerem armas e truques para derrota-los. Há nove armas diferentes ao todo, e Raghim pode conter até três delas em cada mundo. Estas podem comprar-se em pequenos templos localizados em caves e debaixo do mar. Os níveis são longos e desafiantes, assim que "BEGINNER" ("INICIANTE") é o bastante difícil, mas para aqueles que o consigam passar sem muitas dificuldades o jogo oferece um modo mais complicado: "MASTER" ("MESTRE").
O bom:
O melhor deste jogo é não ser simplesmente outro típico jogo de plataforma. A combinação 50/50 de saltar e correr com nadar e submergir fazem algo de especial, ao menos para ser um jogo de PC lançado em 95. Antes disso, Sega tinha lançado "Alex Kidd in Miracle World", Nintendo "Super Mario World", e Amiga "Traps & Treasures", todos eles jogos que combinavam plataforma com nadar e imersão. Mas o mais parecido a isto que conheço em PC foi "In Search of Dr. Riptide" (onde és um submarino) e "Scubadventure" (onde és um búzio). Estes jogos também incluíam oxigénio limitado de maneira que não podias permanecer debaixo de água o tempo que quisesses, como era o caso dos títulos de consola/Amiga. Mas nenhum desses títulos para PC davam te a flexibilidade de caminhar em terra firme ao mesmo tempo. O velho jogo de computador "Alley Cat" tinha um nível onde um podias nadar e submergir com uma limitada quantidade de oxigénio, mas isso era mais bem um mini-jogo de uma só tela dentro de um jogo maior. 90% do tempo passavas em terra firme. Por isso "Atlantis" tem um conceito único ou pelo menos muito raramente utilizado, e terminou sendo uma mistura entre "Prince of Persia" e "Scubadventure" com gráficos similares a " Gods"/"In Search of Dr. Riptide". Estes gráficos foram bastante comuns nos títulos shareware de mediados dos anos 90 e não decepcionarão os fãs dos jogos da velha escola. O conceito de Atlantis também permitia que a antiga civilização se misture com alguns elementos de alta tecnologia (no último episódio) mas não te vou estragar a surpresa contando mais. As ruínas e cidades antigas onde o jogo tem lugar são geniais e as criaturas míticas que as habitam são um bom toque que cria a atmosfera correta. Os níveis estão bem desenhados e as animações de Raghim são muito boas (especialmente dentro de água). O som está presente e os efeitos estão bem mas são um tanto escassos.
O mau:
Não há muita história dentro do jogo, o qual é um pouco triste já que suas criaturas míticas e antigas proporcionam muita profundidade que podia ter sido melhor utilizado como parte da historia para criar algo mais complexo. Os controles são um pouco esquisitos, assim assegura-te de ler bem o arquivo de texto ATLANTIS antes de jogar ou se converterá na principal razão de repetidas mortes. Algo importante é que se querem saltar através de um buraco devem manter pressionada a "seta para cima" primeiro e depois pressionar "esquerda" ou "direita", pois se não o mais provável é que o Raghim salte e se vá - algumas vezes directo para a sua morte. Algo chato no primeiro nível é que cada vez que perdes uma vida reapareces no início do nível e todas as coisas (perolas, inimigos, etc) voltam a estar tal e como se tivesses reiniciado o jogo, e perdes todas tuas armas. Assegura-te de gravar com frequência. Finalmente, a falta de música durante o jogo pode tornar se algo tedioso, assim se utilizam DOSBox (e a maioria deverão faze-lo) ponham alguma música de fundo...
O feio:
Provavelmente já se imaginam que é: o tipo nu. De acordo, perdeu as suas roupas depois de uma tempestade, mas mesmo assim... creio que o conceito é um tanto "historicamente correto" já que os competidores dos jogos Olímpicos na antiga Grécia andavam nus (não, às mulheres não se lhes permitia assistir nem olhar), pelo menos segundo meu antigo professor de história. A verdade é que "Atlantis" foi desenhado por duas mulheres, assim é fácil compreender como é que se aceitou esta ideia. Quem sabe foi a modo de brincadeira ou inclusive como uma estranha tentativa de conseguir atenção. Em qualquer caso o tiro lhes saiu pela culatra, alguns trapos ou melhor ainda - uma mulher nua como personagem principal, pudesse tê-lo convertido num jogo famoso entre os jovens de 14 anos daquele tempo e quem sabe teria vendido mais, já que os jogadores de PC eram (e ainda são) maioritariamente homens.
Conclusão final:
Raghim não tem trapos, mas deixando isso de lado eu pessoalmente não creio que este título seja nada pior do que outros jogos de plataforma de sua época (como "Realms of Chaos"). Provavelmente um mal mercado e gráficos regulares resultaram em vendas pobres e o fizeram cair na escuridão junto com o seu criador Noch Software, Inc. Mas devo dizer que é muito estranho que precisasse de 12 anos para que finalmente reaparecesse na comunidade abandonware. Mas agora que finalmente a "Atlântida" voltou à superfície sugiro que o experimente e tirem as suas próprias conclusões. Corre maravilhosamente em DOSBox 0.70.
Ainda que esta versão do jogo esteja em alemão é fácil de jogar inclusive se não entendem o idioma. Não há muito texto no jogo nem há diálogos assim é completamente jogavel para todos. O texto da introdução está em alemão, e uma insignificante palavra aparece durante cada nível (vejam as fotos). O menu é bastante básico assim simplesmente explorem as diferentes opções antes de jogar e terminarão decifrando-o. Descarreguem o arquivo "Readme" adicional em inglês (sacado da versão shareware) para conhecer mais sobre os controles e mesmo do jogo. Se mesmo assim pensas que a versão em alemão é um desastre sempre fica a esperança de que não se precisem de outros 12 anos para que a versão completa em inglês seja desenterrada. Mas não apostem nisso.
E por último, se lhes agradou este jogo, pode-lhes interessar saber que o produtor de Atlantis, Thomas Dumstorf, mencionou que sua equipe depois desenvolveu um título chamado "Fortune Cookie" ("Bolacha da Fortuna"), e o lançaram sob o nome de Meças Software. Este foi algo bem como uma versão avançada de Atlantis, com o mesmo tipo de conceito de buscas terrestres e aquáticas mas com adversários mais bizarros (se isso é possível). Nunca o joguei e se for tão difícil de conseguir como o foi Atlantis, provavelmente nunca chegarei a joga-lo.