Este jogo é a tão esperada sequela de Star Control 2, uma aventura gráfica (com elementos de estratégia e acção) que se tornou histórica e criou o seu próprio movimento de fãs. Aqueles que nunca jogaram Star Control 2 deveriam fazê-lo antes de experimentarem esta terceira parte. Por outro lado, o primeiro jogo da série, Star Control, não tem um enredo tão bom como a sua sequela, mas ainda assim não deixa de ser altamente recomendável. Os criadores da "saga", Paul Reich III e Fred Ford, deixaram a segunda parte da história propositadamente inacabada, mas por alguma razão não estiveram envolvidos na execução da terceira parte. No entanto a história que aí é contada absorveu tanta gente que uma sequela tinha que aparecer, mesmo que não pudesse contar com o talento dos autores originais...
Existe uma opinião quase unânime entre os fãs de que a terceira parte não chega nem de perto aos calcanhares do seu predecessor. Ainda assim irei focar-me a discutir as qualidades muito próprias deste jogo, juntamente com as comparações que tiverem de ser feitas. Lamentavelmente, este jogo também não aparece com o objectivo de sobressair nesses aspectos. Para começar, fica-se logo com a sensação de que o jogo foi lançado sem ter sido devidamente desenvolvido e testado, entre outras coisas, pois está cheio de "bugs" por onde quer que se olhe. Parece-me a mim que a necessidade de uma sequela deve ter feito os seus programadores pensar que o deveriam lançar tão depressa quanto possível, e que não faria muita diferença se fosse executado de qualquer maneira. Tal como o Star Control 2, este jogo é essencialmente uma aventura gráfica, talvez com uma componente estratégica maior, e mantêm o modo de combate que se tornou popular no primeiro jogo da "saga". Eu irei discutir estes três componentes separadamente.
Um dos pontos positivos neste jogo a que posso chamar atenção é que ele inclui um sistema de ajuda extensivo que pode ser chamado a qualquer momento, portanto é possível tomar controlo no jogo num minuto. Usando a tecla "F1" obtemos ajuda sobre como usar o interface imediatamente. Outra característica positiva neste jogo é que ele recupera o mapa estrelar rotativo do primeiro jogo, embora isso não tenha nenhum efeito prático diferente do mapa a 2D de Star Control 2: pode-se viajar entre dois sistemas solares sem a necessidade de seguir uma rota específica, e a única coisa a ter em conta é a distância (por causa do combustível gasto).
A parte estratégica do jogo consiste basicamente na gestão das colónias: a maioria das espécies em Star Control 2 estão agora aliadas sob o nosso comando (incluindo os "Ur-Quan" e os "Orz"...) e é o nosso dever realizar as respectivas expansões ao longo de um novo quadrante da galáxia. Para se fundarem novas colónias há que levar colonos para planetas não habitados ou recrutá-los das tripulações das naves. O sistema de gestão das colónias não é brilhante e tem os seus "bugs". Definimos as prioridades dos colonos para as respectivas tarefas deslocando indicadores sobre barras. No entanto isto não funciona bem na prática já que o número de colonos designado para uma determinada tarefa às vezes e sem qualquer motivo aumenta quando tentamos diminui-lo; é melhor não complicar as coisas quando se tenta obter uma configuração optimizada. De qualquer forma, a expansão que se consegue tem pouca importância porque NÃO há confrontos estratégicos com o inimigo (os "Hegemonic Crux"): as nossas colónias nunca serão conquistadas (e portanto não precisam de qualquer protecção), nem nos será permitido conquistar colónias inimigas durante o desenvolvimento da história desta aventura. Tudo isto faz com que o elemento estratégico deste jogo, apesar de ser mais forte que nos seus predecessores, tenha a falta de objectivos reais.
Isto deixa-nos um jogo como sendo uma aventura gráfica. Eu sinceramente acho que a história é um pouco idiota, já que muito dificilmente conseguiu captar a minha atenção; onde a história de Star Control 2 era simples e épica, a de Star Control 3 parece-me inferior à daqueles jogos de aventura corriqueiros e não é digna de pertencer a esta "saga". Quanto à dinâmica dos diálogos, eu acho que está mal conseguido por muitas razões. Por exemplo, podemos ter a mesma conversa vezes e vezes sem conta mesmo que a situação mude e o assunto deixe de fazer sentido. Em segundo lugar, quando escolhemos de entre as várias opções numa conversa, o Ser com quem estamos a falar responde muitas vezes a mesma coisa seja qual for a pergunta ou a frase que escolhemos. Estas, entre outras coisas, reforçam a minha ideia de que este jogo foi desenvolvido à pressa. A parte de humor não é tão boa como em Star Control 2 (apesar de existirem excertos que foram literalmente copiados). O que me divertiu mais foi a maneira de falar do "K'tang" ("I'll crushify you, human!" - Eu vou cruxifismagar-te, humano!), que é original mas que deixa a impressão de falta de um oponente merecedor, como os temíveis "Ur-Quan" eram em Star Control 2.
A grande diferença entre este jogo e Star Control 2 é que os desenhos dos extra-terrestres de Reiche foram substituídos por imagens fotográficas, e frequentemente por bonecos que parecem ter sido feitos por peritos em efeitos especiais. Pessoalmente, o resultado faz-me lembrar um filme de ficção cientifica da série "B", na parte que toca às comparações inevitáveis com a arte de Reiche a 320x200 píxeis de Star Control 2. Para deitar mais um pouco de lenha na fogueira, os fãs irão ficar desapontados porque a personalidade de cada espécie não foi respeitada: aqui os "Ur-Quan" parecem velhos em vez de audazes, os "Pkunk" são nojentos em vez de adoráveis, os Syreen... Bem o que eles fizeram aos Syreen é especialmente ultrajante... Em Star Control 2 cada espécie tem uma faixa sonora específica que se ouve enquanto se fala com eles e uma fonte específica para o texto dos diálogos; agora as fontes não existem e as melodias muito dificilmente irão captar a atenção de alguém. Quanto às novas espécies de extra-terrestres, bem, elas não foram criadas por nenhum ás em ficção científica, já que lhes falta a profundidade dos que foram criados para os jogos anteriores da "saga".
A propósito, quando se está "encalhado" ou se precisa de uma dica, pode-se consultar o computador de bordo, ICOM (uma cópia do HAL9000 de "2001: Uma Odisseia no Espaço"). Se ainda assim houver quem não saiba o que fazer, que experimente simplesmente fazer umas explorações ou então deixar o tempo passar. Fica também o aviso de que na parte de jogo de aventura, existe um "bug" que pode fazer com que, dependendo da ordem com que se cumprem as missões, o jogo fique encravado a partir de certo ponto. Este é o cenário catastrófico em que somos forçados a carregar um jogo gravado ou a recomeçar tudo do inicio (!).
Tal como em Star Control e Star Control 2, neste jogo também teremos oportunidade de disputar combates "nave-contra-nave" num modo especial à parte do jogo de aventura. Cada um dos dois jogadores (humanos ou inteligências artificiais) poderá escolher uma nave representante. Os veteranos saberão que existem asteróides e um planeta (com os seus respectivos campos gravitacionais) que tornam os combates mais interessantes, tal como a inércia das naves. A principal novidade, e tenho a certeza de que agradará a muitos, é que o modo multi-jogador foi expandido de "jogo por turnos à vez", para "jogo através de modem, rede local", etc. Outra inovação positiva é que usando a tecla "F5" alterna-se entre a "vista de cima" e uma nova "vista isométrica". No último caso o combate continua a ser em 2D, e resume-se apenas a um efeito mais estético que afecta apenas o aspecto das naves. No entanto quem escolher esta vista isométrica irá deparar-se com outro "bug" que faz o planeta mudar de posição subitamente. Com a tradicional vista de cima isto não ocorre. No entanto existe outro "bug" (sim...) que acontecerá de qualquer modo: quando se controla a direcção da nave e se activa o motor para a fazer deslocar, às vezes a propulsão não muda de direcção com a nave como deveria ser, e a nave continuará a deslocar-se de lado seguindo uma linha recta; embora isso possa ser rapidamente corrigido, pode afectar-nos negativamente quando é precisa uma reacção mais rápida.
Também, neste jogo surgem naves novas (que não existem em Star Control 2) e que correspondem às novas espécies. Muito honestamente, acho que algumas delas parecem ser bastante bizarras. O que é verdadeiramente aborrecido é que nós não poderemos controlar as naves pertencentes a outras espécies que não apareçam no jogo completo, e que ainda são ainda bastantes, já que em Star Control 2 podíamos jogar com as naves de Star Control que não apreciam no jogo completo. E para maldizer ainda mais um bocadinho, não nos é permitido deixar o computador escolher a nave combatente aleatoriamente e o que ainda é pior, é que as animações do Capitão a manobrar a nave já não são mostradas.
A música deste jogo não é nada boa, embora também não seja irritante. Os efeitos digitais, com discursos incluídos, foram removidos pois iria multiplicar o tamanho do ficheiro do jogo por dez; por isso, quando se configuram os "drivers" do som, podem-se configurar também os "drivers" da música midi, mas (atenção) não se podem escolher nenhuns efeitos digitais, caso contrário o jogo irá dar um erro quando os ficheiros dos sons não forem encontrados.
Considerando tudo o que eu disse acima, receio bem que isto não seja suficiente para que ele mereça ser aprovado. Apesar de ter sido sobretudo apropriado compará-lo com os seus predecessores, eu tentei julgá-lo de acordo com as suas virtudes e falhas. A parte estratégica, tal como já foi dito não é nada boa considerando a sua falta de objectivos reais; a parte principal de aventura é, na minha opinião, inferior à de um jogo mediano de aventuras gráficas, mesmo quando não é comparado com o topo de gama a que os seus predecessores apontaram; e a parte do combate, pode ser considerada completamente separada, embora os "bugs" que por lá existem (bem como por todo o resto do jogo) e as omissões que estragam alguma da sua extensão. Para concluir, e não querendo ser muito severo, acho eu, este jogo merece uma nota de 2 num máximo de 5. De qualquer modo, eu recomendo-o a quem nunca o experimentou, e especialmente a quem jogou Star Control 2 (e quem nunca o fez deve ir já a correr jogá-lo). Mesmo depois de tudo isto, tenho que admitir que ainda assim fiquei muito entretido enquanto o tive a jogar.